Tia "Oli"
Era 25 de Janeiro de 2014.
-Amanha vamos no aniversário da “Tia Oli”
– disse o Jairo na sexta feira.
-Tia Oli ?? – Eu também vou lá !
Sábado a tarde, lá pelas 15:58
horas, encontramos a Hildete e o Jairo indo para o aniversário da Tia Oli., com
um enorme pão quente acomodado numa travessa de vidro.
Mas como não tinha sido convidada resolvi
ir mais tarde, bem tipo “chupim.” (chupim – aquele que entra de fininho).
Lá pelas 18:00 achei que seria uma boa
hora, pois já deveriam ter tomado o café e não iria atrapalhar tanto.
-Vou rapidinho na Tia Oli, volto logo.
O Jairo e a Hildete já voltavam com a
vasilha vazia.
-Vais lá ? Quase todos já foram embora ...
-Mas ainda tem gente lá ?
-Sim, tem algumas pessoas, vai lá.
Fui lá ! Ela não me reconheceu de
imediato, pois era calor e meu cabelo estava amarrado, diferente do que ela
sempre me via no passado. Ola daqui, olha dali...
-Eu sou a Márcia !
-Ah, a Márcia ! Que bom que você
veio. ! E me deu um forte abraço.
Ali estavam mais algumas vizinhas, a Dona
Adelaide Ogeda e sua filha Tânia, e a Wanda Jensen Reinert.
Foi um final de tarde bem diferente :
A tia Oli relembrou sua profissão de
costureira: a mãe dela também era costureira, enquanto sua avó fazia as
aplicações a mão . Tudo isto encantava os olhos da pequena Oli.
Logo cedo ela começou a fazer vestidos
para suas bonecas. Com a troca de alguns centavos de reis, as bonecas das
amigas de escola não ficaram mais peladas . Mesmo sem ter feito faculdade
de administração, desde cedo já sabia valorizar seu serviço.
Mal sabia que mais tarde a Família Jensen
de Itoupava Central, nos anos dourados da Cia Jensen (fabrica de açougue e
embutidos – que tinha inúmeros empregados) estaria procurando uma pessoa para
costurar calças e outras peças para a família.
Durante a procura chegaram a duas meninas,
a primeira disse que para ela seria muito longe, já outra disse que não
iria.
- Eu vou – disse a Oli, com cerca de seus 15 anos !
Ela nem estava sendo cogitada.
-“ Kent, das ist aba nich fur dich
-“ Menina, isto não é para ti "
- Tu só sabes fazer roupinha para
bonecas...
- Mas eu quero ir.
E como a “ Frau Jensen” incentivou-a
para uma experiência. Tudo começou.
A Oli costurava na casa das
famílias., fazia cursos para aperfeiçoar-se.e chegou a fazer aula com um
alfaiate para aprender o corte de blaser.As "Jensen" sempre
vinham com tecidos finos, bem luxuosos
Os tecidos eram caros e um erro seria
fatal. Cada pano e cada molde era um desafio .
Seu travesseiro é prova de quantas noite
ficou pensando a melhor forma de cortar e encaixar as peças.
Bainhas? Tudo feito a mão. Imagina uma
saia godê, aquilo não tinha fim!
Os pontos eram invisíveis. Overlock – nem
pensar ! Botões eram forrados.
Praticamente todas as peças tinham forro,
ou seja a mesma peça tinha que ser feita duas vezes. Tudo passado a ferro,
no avesso e no direito. Para assim provar e alfinetar os ajustes....
Roupas de crianças nunca costurou. Camisas
para os dois filhos – nenhuma !
Selecionava as clientes, era muito
organizada.
Costurou inúmeros vestidos de noiva. E o
bom da coisa: sempre era convidada para a festa.
Durante todo seu trabalho, horas e mais
horas em frente a máquina, que se estendiam noite a dentro, e nestas
horas, depois de vir do trabalho , o marido - Seu Wilfried- era bem
companheiro: sentava-se ao seu lado, e lia em voz alta revistas, jornais,
livros ...e até dava seus palpites para os modelitos que sua esposa produzia.
Um segredo desta modista : sempre provar
com sapato de salto.
Isto
engrandece o trabalho !!
Esta visita rápida durou duas horas.
E ela
nem é minha tia ...
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Tia Oli aos 90 anos – Olga Wuerges ( Nurenberg ) |
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Tia Oli com as vizinhas Adelaide Ogeda e sua filha Tânia |
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Tia Oli e sua amiga de escola Wanda Jensen Reinert |
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Tia Oli e sua vizinha Mari Guimarães |